As noites da cidade.
As noites no centro das cidades São sempre tristes com suas ruas sujas Poças d'água encardidas de carbono Lama, cuspe, mijo e burocracias Do dia que passou. Não me iludo, as noites daqui São tão sujas quantos as de Paris, Nova Iorque, Marrakech e Milão. Noites que fedem a perfume barato, Cigarros, bebidas, catarro e sexo.
As putas do centro da cidade São exatamente as mesmas De qualquer lugar do mundo A maioria delas é filha de alguém E a maioria delas é mãe de alguém E a maioria delas é mulher de alguém E a maioria delas paga contas ao amanhecer E a maioria delas toma café e porrada Num bar miserável da cidade. É preciso sempre encarar a volta Algum buraco do mundo deve ser sua casa Algum buraco do mundo guarda suas histórias Algum buraco do mundo esconde toda a verdade.
Eu nessa hora de insônia
Penso nas putas da General Carneiro Penso nas putas da Paulista, da Tijuca De Manhattan e de New Orleans Gostaria que elas soubessem Que alguém desse planeta absurdo Está pensando nelas.... No frio, No açoite, na coca, no medo, nos caras que chegam. Jogo minha bituca pela janela Observo a brasa se despedaçar ao chão Não sinto culpa, ajudo foder o mundo Denuncio nossa maldade Traduzo para você O que a noite não revelou.
(Mariana de Almeida).
Imagem: Uma rua de Amsterdam.